Os
olhos cansados se abrem para a manhã morna de fevereiro. Vestindo sua camiseta
velha e surrada com o nome da banda de rock preferida dele estampada em letras
tortas e pretas, ela desce as escadas do apartamento antigo e pega o jornal em
sua caixa de correspondência.
Deposita-o
em cima da mesa, serve um café, acende um cigarro e senta-se na cadeira ao lado
da janela. Ela contempla um raro dia de sol no inverno congelante de Londres.
Ele não está bem a vista, as nuvens cinzas o encobrem, mas o fraco calor é
reconfortante.
O
barulho dos carros, motoristas impacientes depositando sua raiva na buzina, a
gritaria do vendedor de peixes, gatos miando, cachorros latindo, alguém
gritando em outra língua. Isso tudo é
como musica para os ouvidos da garota de olhos miúdos e cabelos negros. Ela
sabe que pertence aquele lugar. Ou talvez pertença aquele garoto alto, pálido,
olhos azuis e com aquele cabelo escuro e picotado, que sorri para ela da porta,
com um saco de pão nas mãos. O sorriso dele ilumina o seu dia mais do que o sol
cinzento da nublada Londres. Ele deposita um beijo em seus lábios enquanto seus
longos dedos de músico roubam o cigarro das mãos pequenas da garota. Ele dá uma
tragada e o apaga.
Os
dois preparam o café juntos. Ela lava os pratos, sujos há dois dias, enquanto
ele prepara os ovos e o bacon. Se sua mãe soubesse...
Todos
disseram que não duraria. Disseram a ela para não confiar no britânico de
cabelos esquisitos... mas ela não ouviu. Não ouviu porque ele estava cantando
sua canção nova para ela. A canção que escreveu sobre ela. Ninguém entendeu
quando ela anunciou aos pais nova-iorquinos que estava partindo para a
Inglaterra, e que viveria com o cantor de olhos lindos. Não entenderam porque
não sabiam o que estava acontecendo.
Eles
haviam se encontrado, finalmente. Qual era o problema se ela só tinha dezenove
e ele ainda faria vinte e um? Eles tinham sido feitos um para o outro. Como
Jack e Sally e toda a sua estranheza.
Simples
assim.